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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Os livros

Feito de retalhos velhos e novos.
Aquela saia florida já desbotada agora unida à flanela quadriculada em verde e vermelho parece nunca ter existido antes dessa união improvisada entre angustias e uma breve tentativa ao desapego.
Algumas louças descascadas em suas extremidades ainda carregam dias felizes - outros, nem tanto - à mesa, decorada com o vaso de margaridas meticulosamente posicionado no centro. Mesa onde se reuniam duas pessoas ou o grupo de amigos inseperável da época.
Tivemos muitas épocas, diversas margaridas e minutos interminaveis àquela mesa.
A mesa não coube no baú.
Um par de sapatos. Cheguei a temer a tarefa de escolher um único par de sapatos pra guardar e agora me pergunto: por que carregar sapatos que ocupam o espaço de uma dúzia de memórias que luto pra que não sejam esquecidas? Ficaram lá atrás e tenho medo que um dia se percam umas das outras ou não encontrem mais o caminho da minha casa.
Separei algumas flores secas em potes de vidro. Cada pote uma flor e cada flor um recomeço.
Já repararam no quão parecidas as flores ficam depois de secas? Digo, algumas perdem por completo suas características e passam a ser galhos secos da mesma cor e textura, vez ou outra conservando um cheiro específico. São meus recomeços.
Não identifico mais qual flor definiu qual recomeço, mas sei que foram quatro. Quatro potes, quatro tentativas e a mesma vida dentro de cada pote.
Guardei também cinco novelos de cinco cores diferentes. Estes cinco são descobertas futuras e espero que esses sim mudem meus dias. A gente muda quando a gente cria. Crescemos quando damos vida, e vida ao que quer que seja. Ainda não sei ao que darei vida, mas acho que um par de meias e um casaquinho estão por vir...
Existe o fundo falso no baú, e nesse não me atrevo a mexer. Lá estão as primeiras coisas que achei pelo caminho e desesperada escondi sem saber o que eram. Muito do que fui e hoje já não sou.
Com o baú já abarrotado, tentei em vão achar mais um espaço. Empurrei as fotografias pra baixo, amassei os livros que você me deu e nem assim. Você não coube dessa vez.
De tudo seu, agora restam os livros.

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