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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Particípio passado

E é nesses dias que preciso de qualquer alguém que me leve por caminhos diferentes. Não me importa serem bons esses caminhos se já não são medidos o final das histórias e as suas consequências. Há o inevitável e aquilo o que esperamos.
Ele estava deitado ao lado dela e o televisor repetia aleatoriamente uma série de notas dispensáveis. Era o habitual das tardes de sábado, após o almoço tardio às cinco e vinte improvisado em minutos ou repensado durante horas. Nenhum dos dois estava assistindo à programação, mas o televisor permanecia ligado por estar lá, por ser televisor.
Ele a fitou por alguns instantes e chegou a estender um dos braços a fim de tocar seu rosto e talvez afastar aquela mecha de cabelo caída sobre os olhos, apreciando cada pincelada que dava àquela obra o tom mais próximo à perfeição. Se conteve num impulso racional sabendo que qualquer movimento poderia acordá-la e então tudo aquilo perderia a razão de ser. O televisor ligado, a disposição de seus corpos naquele emaranhado de lençol e roupas, as formas que seu ventre tomava a cada respiração prolongada e como sustentava aquela beleza singular enquanto dormia. Recuou fazendo o mesmo movimento inverso, repousando novamente a mão sobre o colchão no vão permanente entre os dois corpos.
Calmamente e agora apoiado sobre a mão aberta, curvou o corpo aproximando-se do seu rosto e beijou cuidadosamente cada pálpebra sabendo que não existiria uma próxima vez em que elas se abririam pra ele.
Voltou a cabeça ao travesseiro decidindo só fazer as malas na manhã seguinte.

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