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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Guardando os negativos

No ônibus, o trânsito lento e tortuoso no centro da capital, pessoas atravessando as ruas por entre carros, luzes já acesas e de repente você. Você surgiu nessa confusão toda.
Sabe aquele barulho que você fazia quando sua garganta coçava? Lembrei do quanto essa sua mania me irritava. Lá estava eu dentro do ônibus, arrastando um resfriado desses chatos que parecem perdurar por meses e fazendo a mesma coisa que você fazia quando sua garganta coçava ou sei lá o quê. Você fazia tanto que no final eu não sabia se era só pelo hábito, pelo impulso consciente de me irritar ou pela coceira na garganta.
Quando começamos, eu gostava. Eu te gostava em tudo, todos os tudos, mas antes de tornar tudo isso meloso melancólico fundo demais e disparar possíveis exageros pra todos os lados, respiro fundo e continuo. Essa sua mania me lembrava - às avessas - mania de criança, como quando eu tantas vezes pressionava meus indicadores dobrados contra os olhos esfregando cada vez mais forte e ninguém nem nada era capaz de me fazer parar. Te via criança, correndo entre as cores ou as cores corridas e você parada, se escondendo atrás de qualquer mato ou pedaço de... Sei lá. Era tanto o que passava pela minha cabeça quando você se sentava num canto qualquer pra desenhar entre dezenas de lápis de cores diversas, canetinhas e bastões de cera espalhados pelo chão, quando comia com a melhor cara do mundo aqueles canudos doces azedos que eu detestava e também quando fazia esse barulho com a garganta.
Como zumbi que, mesmo depois de morto, continua a andar assombrando agonizante, essas divagações me consumiram o resto da viagem, me afundando em pilhas de novos questionamentos. Não pertence, não pertenci.
Quantas manias e defeitos foram soterrados por palavras delicadas, desenhos entregues e trechos de músicas e textos escritos sobre trilhos rodas e solas de sapato? Afinal, que efeito você me causava?
Queria te dizer coisas bonitas agora.

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