Facebook »

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Prelúdio

Esperava na sala enquanto você preparava o café. A disposição dos móveis e o jeito com que arruma as almofadas no sofá faziam me sentir muito bem, uma sensação que só tive com você.
Enquanto me prendia a esses pensamentos e sensações, você apareceu na minha frente com duas xícaras e meus biscoitos preferidos. Fiz aquela cara de surpresa que sempre faço quando já sei o que está por acontecer e não quero que saiba. Talvez você conheça essa cara.
Pedi meu café puro e, enquanto você adoçava o seu, me peguei completamente absorta em seus movimentos: a boca entreaberta quando está pensando em falar mas não sabe se deve, a cabeça levemente inclinada para a esquerda parecendo confusa e os movimentos circulares que fazia lentamente com a pequena colher. Era como se eu quisesse descobrir um detalhe que nunca tivesse visto em você ou em qualquer outra pessoa.
Peguei um biscoito. Entre risadas e confissões refeitas, me desliguei da conversa. Chovia muito e era inevitável pensar que a chuva existia nessa noite por um motivo muito maior do que molhar ou permanecer chovendo . Eu já não conseguia prestar atenção em mais nada, éramos só a chuva e eu.
Pedi licença pra fumar um cigarro fora a fim de me encontrar realmente sozinha com ela.
Me sentei, acendi um cigarro e em pouco tempo entendi: a chuva se lamentava. Chorava lavando cada canto escondido da rua se lamentando pelas noites mal dormidas, resquícios de uma paixonite aguda das que não ficam mas também não passam. Eu só ouvia.
No segundo cigarro você me chamou irritada. Dizia que um maço de cigarros numa noite fria me era melhor companhia do que você. E assim eu preferiria. Preferira que você fosse mais carne, mais calor, mais defeito... ou menos eu e só.
Apaguei o cigarro e entrei. Me sentei ao seu lado pegando novamente a xícara e voltamos à cena de início.
O gole amargo e frio me despertou.
Olhei as horas e haviam se passado exatamente cinco minutos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário